Saturday, April 01, 2006

O ensaio

IV.

O sol entrou pela janela entreaberta. Toda a colcha da cama, lençóis, almofadas, bem o quarto todo era branco, pálido, com poucos detalhes vermelhos, a decoração, ela mesma tinha feito, e estava muito distinto e bonito, de sua maneira especial.
Catarina abriu os olhos, e seus cílios estavam mesclados com madeixas ruivas da descabelada cabeleira. Acordara bem, diferente das consecutivas manhãs dos últimos meses. Virou o rosto e jogou toda a cabeleira pro outro lado, o sol machucou seus olhos, que estavam semi abertos pela claridade que o quarto com seus brancos rebatiam.
Na fresta de luz que passava pelo meio de seus cílios, ainda cruzados pela claridade, viu aquela corpo embasado, quem era branco, trazendo harmonia ao cômodo, pensou “combina com o quarto e com meus cabelos” – sorriu. Forçou os olhos, queria ver bem aquela imagem.
As costas brancas e largas, com os ossos triangulares salientes, o rosto virado para o outro lado da cama, de cara para o sol, com certeza o incomodava. Aquela figura delgada, alta, com os cabelos hora castanhos hora loiros, os braços largos, a mão masculina rude e áspera, alinhadas ao seu corpo, rente ao seu quadril. Tinha a metade do lençol no meio da parte de traz cocha, se via seu culo, branco, de menino, de homem, perfectamente redondos, que reluziam a luz dando uma capa dourada a sua pele. Era um rei, e ela sua rainha, sua serva, sua amante, sua mulher.
Ela sorria largada na cama, vendo suas curvas e comparando ao corpo retangular dele. Lembrava das bem feitorias da noite passada, e como o amava.
Milan Kundera fala que o amor é o sono compartilhado. Seu personagem Tomas era curioso pela forma feminina, se deitava com todas, mas só podia dormir, e amanhecer cheirando o suor da noite passada, o cabelo úmido emaranhado, a cara inchada, o nariz e poros abertos, ao lado de uma só mulher, de sua Tereza.
Ela era sua Tereza e ele seu Tomas.
Ficou horas apreciando aquele menino dormir ao seu lado. Sentia-se uma maestra, uma trintona, casada, que pagava meninos mais novos para ter o que seu marido, empresário, não podia lhe dar. Na verdade, ele era seu aluno, mas agora, bem mais que isso, essa seu confidente, seu amante. Deixou de ser sua advertência e passou a ser seu homem, ela, advertência dele.
Percebeu que Milan falara, estava, de verdade correto, não havia melhor cheiro do que o cheiro daqueles lençóis, daquela manhã mofenta descendente de uma noite de amor agitada de amor.
Depois de telo apreciado durante o bom sono remanescente da manhã, não queria passar nenhum minuto longe dele, e se atreveu a tocar suas costas, acariciá-las, devagar, para que não se desperte. Seguindo o contorno de sua espinha dorsal, passando o dedo pela nuca, e descendo até seu bumbum, fazendo sombra ao dourado da pele. Ele continuou dormindo, ou senão fingindo, e claro, feliz pelos afagos cuidadosos.
Nua, sobre a colcha branca, que se confundia com a cor de sua pele, pegou na cabeceira do lado um livro que estava lendo, de Álvaro Vargas Llosa, o folheava, e caiu entre seus seios um recorte, ela o pegou e leu

Wellington (Reuter). Una profesora de Nueva Zelanda, de 24 años, ha sido condenada a cuatro años de cárcel por un juez de esta cuidad por violación sexual, trás haberse comprobado que la maestra mantenía relaciones carnales con un niño de diez años, amigo y compañero de colegio de su hijo. El juez precisó que le había dado la misma sentencia que hubiera imposto a un hombre que hubiera violado a una niña de esa edad.

Soltou uma gargalhada alta, frouxa e preguiçosa, sentia seu abdômen se movimentar com preguiça por ter acordar e ser forçar a contrair por lãs gargalhadas fortes que sua dona emitia. Não pode se conter, mesmo com o amado ao lado adormecido.
- De que esta rindo?! – Ele disse com um sorriso forçado pelo lábio que se recusava abrir -. Amo essa tua risada, seria um presente de Eros me conceder que todas as manhas acorde do seu lado com essa risada.
Ela, continuou seu pensamento e leu em voz alta o recorte, sorridente.
- Quero conhecê-la, essa mulher, essa maestra é uma desbravadora, assim como você. Todos os meninos deveriam perder usa virgindade na adolescência com suas professoras.
Ela sorriu, virou para ele e o fitou por alguns segundos. Se o beijara, esse amor valeria por muito tempo, quem sabe para sempre. O pior beijo é ao despertar, gosto de metal enferrujado.
Ela, o beijou, e sentiu a intrusão da dolce lengua de menino na sua boca, seus lábios secos e pegajosos que mal se abriam, pelo despertar demorado, e compartilharam aquele gosto matinal de metal enferrujado, que lhes servia como café da manhã na casa. Mais uma vez se amaram.

4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

surpreendente!
vc escreve realmente mto bem!

9:12 PM  
Anonymous Anonymous said...

uma voz feminina acariciava bob dylan quando eu comecei a ler, e se ela já desliza pelo elliott e ainda não perdi o interesse, é porque seu texto tinha algo de vivo, algo de atipicamente bom que me prendeu. =)
não gostei das citações de nomes desnecessárias, uma menção infantil-ignorante a Eros que não é legal porque uma obviedade, mas que é legal se obviedade era sua intenção. mas se obviedade era sua intenção, que deixasse então um pouco mais óbvia a intenção (não a obviedade). não tão óbvio quanto nomes citados, lógico, mas aí é uma obviedade diferente.
enfim, tinha algo de vivo mas aí a parte de gostar do cara pela ignorância infantil e o quanto isso fazia bem pro ego feminino da professora começou a superar a parte do ele é realmente interessante ele é meu homem eu sua mulher mas quem não chora não mama e esse bebê tá chorando querendo mamar beleza fmz vlw

5:59 PM  
Blogger Alfred said...

A quem possa interessar:
Eu estou vivo...

7:48 PM  
Anonymous Anonymous said...

Esse foi uns dos seus textos q eu mais gostei...
Eh interessante... Beijo de manha tem gosto de metal enferrujado...
Eu sempre soube disso, mas nunca tinha pensado a respeito!!!
Isso foi coisa da sua cabeca ou vc leu em alguns lugar???
bjosss

1:20 PM  

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