Wednesday, May 23, 2007

Ignácio, eu e o album

Como havíamos especulado, ele e eu, cansamos um do outro.
Ignácio não me via mais com os mesmos olhos de carinho e admiração, pelo contrario, me olhava com um certo desprezo e presunção, como se escondesse algo de mim e sempre a espreita para me ver enfraquecida e me dar o bote.
Depois de um curto período de relacionamento fica assim, desgastado, e como os dois têm personalidades muito fortes, um fica querendo ver a tragédia do outro para poder sobressair a afirmar a eterna dependência do mais fraco ao mais forte.
Ignácio não era lá essas coisas, já estive com homens melhores em vários sentidos. Era baixo, ameno, meio pardo, olhos escuros, era desleixado, lerdo e às vezes demente, inteligente não de livros, mas de vida, tocava flauta transversal docemente e era contra todo o velho. Tinha mal hálito crônico. Seu pai, Dr. Aurelino, me tratava bem e sempre me roubava dos braços de Ignácio para falar da ex, falecida mãe de Ignácio, Maria Isabel. Como de costume em viúvos, sempre se vitimizava, sentia pena dele então não me incomodava com as olhadelas para meu traseiro e os incidentes toques em meu seio.
Aventurei-me pela América de Ignácio, porque afinal aos homens temos que colecionar. São como figurinhas num álbum, sempre esperamos pela mais diferente, a mais difícil de encontrar e depois que a encontramos nos vem varias repetidas como a tão esperada, essas dividimos com as amigas e descobrimos que há outra que nos falta para ansiar sua vinda da mesma forma. Somente se esta satisfeita quando falta apenas um espaço para ser preenchido, e foi, com certeza, a figurinha mais difícil de achar, porque senão não estaria faltando, e finalmente quando a encontramos paramos de buscar, porque o álbum já esta completo. A verdade sobre o álbum de figurinha não é achar a figurinha mais difícil, mas sim parar de buscar por elas.
Quando via Ignácio pensava nele em meu álbum, foi com certeza, difícil de achar. Mas logo ao lado dele tinham mais 3 espaços vazios e mais uma dezenas em varias outras paginas. Depois de mais ou menos 3 meses com ele já não ligava mais pela sua presença em meu álbum, mas sim, pelos vários outros espaços em branco que faltavam ser preenchido.
Todo bom colecionador de figurinhas sabe, que não existe tempo exato para o entusiasmo com uma figurinha especifica, pode durar uma hora ou 10 anos, mais se ainda existir busca por outras figurinhas, o entusiasmo sempre vai passar e o incomodo pelos espaços em branco sempre vai persistir.
Quando terminamos não o via mais na minha frente, ele falava, recitava textos e eu pensava na 14, 36 e 37 que estavam faltando.
Ignácio tinha isso, de recitar textos e querer que todos concordassem com o que dizia, como se fora ele mesmo autor de tudo que falava. Como disse, ele rejeitava tudo que é velho, então não compreenderia alguém não dar credito ao que diz, porque com certeza, seria a noticia mais atual.
Quando falou em amor, voltei ao lugar onde estávamos, debaixo do bloco dele na 207 Sul, terminando um namorico de 3 meses. Por mais que sejamos todos colecionadores a palavra amor sempre nos prende e taí uma palavra que não era comum nas atualidades de Ignácio.
Eu: Que?
Ignácio: Eu te amo.
Eu não disse nada e não me pareceu verdadeiro. Não sei ao certo se o amor é algo altruísta ou egoísta, como pode me amar se estamos terminando? Deveria amar antes, enquanto estávamos juntos. Apesar que o amor dele não mudaria o curso das coisas, porque terminaríamos da mesma forma. Mas, com certeza, seria mais legal.
Ele continuou se recitando e eu prestando menos atenção ainda no que falava, pensava em mim e no que iria fazer naquela noite. Não é egoísmo meu não, ele falava para ele mesmo, Ignácio era o único interessado nas coisas que falava, mas gostava de fingir que falava para os outros, como se de alguma forma, todos esperassem o gotejar de sua sabedoria.
Ele se levantou do meu carro e disse tchau, eu sorri, disse tchau e mandei um beijo ao Dr. Aurelino. Quem sabe ele não é a figurinha 36?

7 Comments:

Blogger Dominique Lee said...

Acho que essa teoria do album guiou vários anos da minha vida. Até que eu vi que podia acabar sozinha, ao lado de um album ainda incompleto. :P

Mas você tem razão. Homens são apenas homens. :)

P.s: credo, peguei nojo do ignácio.

:***

8:21 AM  
Anonymous Anonymous said...

ainda vai conseguir a 98. ela tem tudo q as das casas 90 anunciavam, prometiam. ela é tipo, premiada, sabe? a mais legal do album q vc c a página mais gasta e a q sempre vc pede a deus p aparecer no nível ou melhor. d vez enqdo aparece a uma vinte e tal q é uma decadência nos padrões p as noventa, porém, a promessa d frustração, drama e d colar mais uma é irresistível.
- virou ou ñ virou a página?
- hmm, ainda ñ. mas eu vou. prometo!

7:43 PM  
Anonymous Anonymous said...

E a figurinha repetida? O que eu faço com ela?

Amis, lembrei da caixa de chocolates do Forest Gump, sabe?

Beijo!
Doda

9:23 AM  
Blogger vina apsara said...

ignácio lembra ignóbil
tadinho...

8:38 AM  
Anonymous Anonymous said...

Me identifiquei com esse texto. Ele é totalmente cético.É bem meu momento hoje. Tb fiquei com nojo do Ignácio.Hehehehe...

4:33 AM  
Anonymous Anonymous said...

Esse texto me lembra das "figurinhas repetidas" da minha vida (que não completam o álbum, né? :P). Como poderia as esquecer; não sei nem onde colar elas... Ah, e esse Ignácio sounds like a son of a bitch. :*

10:03 AM  
Blogger Crissi, Val, Nina, Tina e afins said...

He is Mégui!
=)

8:43 PM  

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