Thursday, May 03, 2007

Pra onde foram os strudels?


- Sim, e no contexto histórico do direito constitucional...

E foi diminuindo, diminuindo, diminuindo, até eu escutar aquela voz longe, lá do fundo, e ter meus pensamentos tomados pela ânsia de um doce qualquer. Logo vi que não seria umas das minhas melhores noites, porque toda vez que se escuta “direito constitucional” algo no mundo sempre muda de lugar.

Foi então que vi que não tinha para onde correr, e disse:

- Licença, vou ao banheiro.

Desde criança, quando não tinha onde me esconder, ia ao banheiro, é friozinho e sempre tem como se trancar.

Passei uns 15 minutos no banheiro, somente me olhando no espelho. Analisava a curva de meu nariz, as 5 acnes que tinha da testa, uns cravinhos na bochecha, os fios grossos que desalinhavam a sobrancelha, meu cabelo pouco emaranhado, os lábios de batom pouco pintados e o lápis de olho pouco borrado, e mesmo com isso tudo não me achei tão mal assim, era, com certeza, mais humana que muitos que estavam na mesa. Não mexi em nada e voltei a sala.

- Escutei isso tudo hoje numa sessão do plenário, mas os deputados não sabem ainda o que vão fazer...

Realmente cogitei que a palavra “plenário” seria a ultima dessa frase, mas a besta continuou falando.

Fala “Licença, vou ao banheiro” 2 minutos depois de ter voltado do mesmo, não agradaria os ouvidos dos meus amigos que se entretêm com o poder judiciário, e muitos iriam se perguntar dos motivos das minhas idas ao banheiro com tanta freqüência... Esperei mais 3 minutos, enquanto analisava os dedos do pé da Maria, que estava ao meu lado, eram com certeza, os dedos mais lindos que já vi na minha vida. Poderiam ser de chocolate. Quando completou 5 minutos de volta do banheiro, disse:

- Vou ali comprar um strudel.

Não sei de onde diabos tirei o doce strudel! Havia uns 3 anos que não comia um strudel, e analisando freudianamente, me levariam mais 3 anos para achar um strudel naquela hora na cidade, então isso me daria 3 anos longe do papo desgostoso dos meus amigos, assim sendo... Meu strudel não foi uma tão má idéia!

O feitiço virou contra a entediada feiticeira. Depois que falei strudel, realmente fiquei com vontade de comer um strudel, e procurei por todo bairro o strudel... Não houve então, nenhum strudel na historia da humanidade naquela noite! Nem na noite seguinte, nem no dia seguinte, tão pouco ontem... O que antes era apenas uma desculpa para me levantar da sala da casa de Matias e sair vagando sozinha pela noite do Rio de Janeiro, virou um tormento.

Depois da segunda semana também insatisfatória da busca do meu strudel eu sonhei:

Sonhei que estava numa feira de antiguidades, onde todo o ambiente era sépia e tudo tinha cheiro de café frio derramado. De longe vi minha sócia que estava com o seu filho apoiado apenas pela mão esquerda, e na direita era trazia um delicioso strudel, somente depois de ver o strudel senti a real necessidade de ir falar com ela, e claro, pedir um pedaço. O pedaço me foi concedido sem demora, mas toda a ânsia de minha primeira bocada no tão esperado strudel, o fez cair, antes de qualquer pedacinho ter pelo menos tocado meus lábios e o cheiro doce canelado chegado a minhas narinas. Minha indignação foi tamanha, que peguei a merda do strudel do chão, amassei no guardanapo de o joguei na lixeira. Mais a frente encontro minha gatinha que amo, a Lucrecita, a imagem dela apaziguou meu coração, peguei minha gatinha, cherei, a beijei e a coloquei no chão para brincar com outro gatinho que estava com ela, um menorzinho. Eu fiquei ali, naquele ambiente aconchegante sépia com cheiro de café frio seco observando a beleza de Lucrecia brincando com um gatinho mais novo. Foi quando inesperadamente chegou outro gato, um grande, gordo e laranja que num só movimento, pressinou Lucre e seu amiguinho contra a parede os sufocando até a morte. Antagonicamente, minha reação não foi de desespero, foi como quem já espera a morte de outro, e com uma cara tapada, somente disse “Olha, a Lucrecia morreu.”

Acordei feliz, percebi que tudo passava de um sonho e que minha Lucrecinha continuava viva, miando lá na sala suplicando por comida.

Mas minha indignação só aumenta, nem no meu sonho consegui comer o meu strudel. Estou começando a acreditar que nunca haverá na historia da humanidade um strudel para mim, e se em algum dia inesperado houver, como daqui há 3 anos, algo no mundo vai mudar de lugar, assim como quando se escuta direito constitucional.


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