Dr. R. e a visitante
Suspeitei que a confiança era minha aliada naquele momento, andávamos de mãos dadas. Eu sentia aquela mão fria, efêmera e áspera, mas num todo, me sentia bem naquele momento.
Ovocitava, isso explica!
Errei os elevadores 3 vezes, o cara da portaria já me olhava – Menina Estúpida! – Humilhante.
Cheguei ao 19° andar e esperei a guria chamar o Dr. R., mas, foi ele quem me chamou, passando pela porta de vidro fume, me fitou, sorriu e me escoltou até sua sala.
O papo de que não era monogâmico já era velho, mas escutei de novo, com cara de criança que vê a primeira vez o pai vestido de Papai Noel.
Enquanto o olhava fingindo interesse e passando o dedo indicador na borda do copo de cristal que sua secretaria me serviu com água, ele seguia seu monologo.
“Eu acredito que temos que experimentar, nos deliciarmos nessa vida que é pequena, e, depois que percebi isso vi que, se eu tiver a oportunidade de me apaixonar de novo, de viver uma paixão, mesmo casado a 25 anos, não deixarei essa oportunidade passar. Somos seres curiosos, onde eu descobrir paixão vou atrás... Esse papo contigo me lembra de um poema que escrevi para o Niemayer lá no Rio, sobre o cú da moça.”.
Eu o escutava e fazia cara de aprovação de tudo que falava. Sou preguiçosa, não recriminaria uma só palavra sua pelo simples fato que teria que me explicar. Estava matando trabalho para entender o emocional do Dr. R. e me sentir uma ninfa sendo cantada por Freud. Nada melhor!
Depois de muito papo, levantamos os dois e desceríamos juntos os 19 andares, pensei na tortura que seria descer naquele elevador sozinha com ele.
Um pouco antes de abrir a porta de sua sala para sairmos, ele pegou meu rosto com as duas mãos côncavas, me estreitou paralelo ao seu rosto e perguntou:
- Posso fazer uma coisa?
Ele tremia, sorria e desfazia o sorriso rapidamente, estava nervosíssimo. Já imaginei que me beijaria, e pensei quão constrangedor seria se negasse.
Aceitei.
Ele então me beijou. Seus lábios eram frios, ruguentos com gosto de Charm, diferente se suas mãos cheirosas que ferviam contra minha bochecha.
Abri a porta e fui saindo, agi como se nada tivesse acontecido e nada realmente aconteceu. Foi mais um momento Construção de Chico Buarque.
Ah, e não houve tortura na descida do elevador, um trabalhador suado, de manga arregaçada com um sorriso faltando 2 dentes estampado no rosto, desceu os 19 andares perguntando pro sinhô R. que ele fazia.
Salve Chico!
2 Comments:
Eu ainda não me conformei com a profissão do Dr. R.
Mas só posso fazer minhas pesadas críticas assim que restaurar o meu blog para direito de resposta! heheh =P
Mas confesso que gostei!
Plof!
Ai caramba. Gostei desse texto, que comédia. Eu até quase me senti beijado pelo doutor... argg... Fiquei enojado, mas isso é bom certo? Muito bom. Hehehehe...
Beijão Batata.
Post a Comment
<< Home