Sunday, August 05, 2007

Coisas do João 3bs

Acho que era na biblioteca do Rio, tenho quase certeza, porque lembro de ter mencionado em alguma aula o quanto gostava do Rio, e esse tipo de informação para mim é algo de graça, apesar de João 3bs ser mais que um medíocre aluno.
Eu fechava a escola, e meu último aluno era quase sempre João 3bs, bem, quando estava aqui em Brasília, porque constantemente viajava, tanto pelo Senado, como pela literatura.
Em 20 minutos dávamos a lição, dávamos porque mesmo eu sendo a professora, João que me ensinava as coisas, suas perguntas embolavam minha lingua e eu travava e juntos íamos atrás de respostas. A verdade é o letrado me intimidava e ainda hoje um pouco.
Uma noite chegou com uma historia que estava na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro - tenho quase certeza - e dentre esses livros velhos, empoeirados de capa dura sem ilustração, escolheu um que não sei o nome tão pouco o autor, ele me disse mas apaguei da minha memória, porque o relato depois foi bastante intenso. João 3bs abre o livro em uma página qualquer, e vê a obra de arte de uma traça que entre aquelas páginas morava. Aquele livro deveria estar fechado por um bom tempo, porque aquela obra de arte era grandiosa, considerando que sua autora era uma traça. Penso as vezes que não foi somente uma, mas talvez uma família de traças, ou uma geração de traças que dividiram por muito tempo aquelas páginas no escurinho, sem ver o que estavam traçando.
Quando João abriu o livro, a obra de arte o deixou intrigado - assim como seu relato me tocou o coração - a obra de arte era espelhada, o que estava numa página se repetia exatamente na outra, que beijara a página anterior por bastante tempo e continuará pela eternidade. Era uma mulher, nua, com os braços levantados, voluptuosa, fazendo charme na frente da outra página que a refletia como um espelho. Mas a obra quando olhada como uma só imagem me parecia um rosto depremido esguio, uma caveira. Acredito que a traça traçou o amor da página impar com a par, hora se admiravam, viam a beleza curvilínea uma da outra, hora se deprimiam com o fato de nunca poderem se separar.
Pude me deleitar com tal imagem porque meu querido pupilo tirou uma xerox na biblioteca e me trouxe no outro dia de aula, com um poesia.

Balé

-Vamos traçar um livro!
traçou com leveza
uma traça à outra
e, transando de folha a outra,
desenharam amores
para outros (nem tão bem traçados)
leitores.

João Bosco Bezerra Bonfim

Saudades.

2 Comments:

Blogger Dr House said...

ouvi falar sobre!

10:45 AM  
Blogger vina apsara said...

so no final entendi o 3bs. Achei que era tres-bê-ésse.

8:23 AM  

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