O ensaio.
II.
Odeio portas trancadas, serio mesmo. Quando amanhecia estava tudo trancando. Minha mãe tem esse problema e justifica por não conhecer as pessoas que entram e saem de nossa casa – esta em reforma a cozinha e 2 banheiros –, e também para não haver desorganização. Nada me incomoda mais que chegar na cozinha e os armários estão trancados, a porta da cozinha esta trancada, tudo trancado, me irrito tanto e desisto de comer. Saio direto de casa e tomo um capuccino no trabalho. Merda!
Outra, odeio o metrô cheio. Pessoas afoitas indo para o trabalho. Fico deprimida todo dia quando entro no metrô, mas não sei ao certo, poderia ir de carro, mas o transito na cidade é pior, e também, gosto de esta no meio daquela gente toda, ninguém me conhece, e eu não conheço ninguém, sou cúmplice deles, e por mais que me deprima, dividimos aquele nicho todos os dias. Faço questão de sentar todo dia num vagão diferente, como se estivesse confiscando algo, e para não vê os mesmos rostos.
Vê-se de tudo no metrô. Pessoas velhas, engravatados, putas, estudantes de colegial, mãe solteiras, velhos... Gosto de julgá-los, ajuda a afastar o tédio da manhã e o tempo passa mais rapido, e às vezes, dependendo do meu humor pela manhã – cujo este implica se consigo ou não tomar café em casa –, começo uma conversação com a pessoa que esta do meu lado.
Conheci um dia a Sra. Marly Webber, nunca vou me esquecer daquela senhora, era alta, tinha por volta de seus 45 anos, meio corcunda, cabelos vermelhos com raízes braqncas entre alguns fios negros, tinha um narigão e os lábios finos, seu rimel havia escorrido um pouco, isso acentuava seus olhos cansados. Estava com um vestido aveludado roxo, longo e com sapatos de palhaço, e seu estomago urgia terrivelmente. Era uma obra de arte.
“Esta bem cheio hoje esse metrô, não?!” Eu disse. Sempre começo conversa com estranhos com coisas obvias, acho que isso vem de meu avô, ele sempre faz isso, mas gosto do modo como ele fala. “Sim está, e eu me sinto mal com isso, também estou morta de fome” disse Sra. Marly.
“Eu também estou com fome. Acho que todo mundo desse metrô esta com fome. Todos saem correndo de casa para não perder o metrô. Eu nem em casa estava, estava de plantão”.Eu disse.
“Concordo! Plantão?! Que faz?” Ela disse sorrindo, seus dentes eram amarelados, deduzo que vinha do cigarro e do café. A palavra plantão sempre instiga as pessoas.
“Ah, eu faço serviço social numa clinica mental, passei a noite acordada conversando com um senhor, Sr. Betone, é francês e jura que é amigo intimo de Sartre. Não sei como veio parar aqui em nosso país. Sabe, os loucos são muito carentes, precisam só de atenção.” Eu disse bem séria, como se fazer seviço social em manicômio fosse algo como fazer advocacia.
Ela ficou quieta por uns segundos e logo em seguida seus olhos se encheram de lagrima e disse “Meu pai pensava que era amigo intimo de Sartre também... Me perdoa, é que sempre fico emocionada ao pensar em meu paizinho. Ele era musico, tocava violino divinamente bem, mas era um homem miserável, rebelde e fanfarrão, minha mãezinha sofria muito ao seu lado, e ele desejara somente a morte dela.”.
Me deu vontade de rir, mas me segurei. Me senti mal de ter despertado esse sentimento na Senhora que mal conhecera. Minha mãe sempre diz que não me importo com a desgraça alheia, e tudo sempre é motivo de riso e chacota. Nesse exato momento lembrei dela, e pensei como me reprimia em mentir e de despertar tais sentimentos na pobre senhora.
“Me perdoe”.Disse ela mais uma vez, secando o lagrima que estavam quase para cair. “Meu nome é Marly Webber, prazer!”. “Eu sou Anieta Stelda, prazer! Me perdoe, não queria lhe fazer choramingar. Mas quero lhe certificar de uma coisa. Os velhos gostam de suas fantasias, eles não chamam de doença, mas de sanidade, é muita vezes o que as fazem viver entre nós por mais tempo. Me encanta Sr. Bretone, e suas estórias sempre me fascinam. Seu pai também deveria de ter estória fascinantes.”
Ela sorriu, me fez uma caricia com seu olhar meigo. Estava mais reconfortada. “A próxima parada eu desço, prazer Anieta! Nos encontramos outro dia no metrô, e com fome” Sorriu mais uma vez e se levantou. Realmente era muito grande.
“Ciao, Marly! Vou falar ao Sr. Bretone sobre você e seu pai, ele vai gostar”.
Nunca vou me esquecer de Marly, ela quase me fez parar de mentir. Quase!
Outra, odeio o metrô cheio. Pessoas afoitas indo para o trabalho. Fico deprimida todo dia quando entro no metrô, mas não sei ao certo, poderia ir de carro, mas o transito na cidade é pior, e também, gosto de esta no meio daquela gente toda, ninguém me conhece, e eu não conheço ninguém, sou cúmplice deles, e por mais que me deprima, dividimos aquele nicho todos os dias. Faço questão de sentar todo dia num vagão diferente, como se estivesse confiscando algo, e para não vê os mesmos rostos.
Vê-se de tudo no metrô. Pessoas velhas, engravatados, putas, estudantes de colegial, mãe solteiras, velhos... Gosto de julgá-los, ajuda a afastar o tédio da manhã e o tempo passa mais rapido, e às vezes, dependendo do meu humor pela manhã – cujo este implica se consigo ou não tomar café em casa –, começo uma conversação com a pessoa que esta do meu lado.
Conheci um dia a Sra. Marly Webber, nunca vou me esquecer daquela senhora, era alta, tinha por volta de seus 45 anos, meio corcunda, cabelos vermelhos com raízes braqncas entre alguns fios negros, tinha um narigão e os lábios finos, seu rimel havia escorrido um pouco, isso acentuava seus olhos cansados. Estava com um vestido aveludado roxo, longo e com sapatos de palhaço, e seu estomago urgia terrivelmente. Era uma obra de arte.
“Esta bem cheio hoje esse metrô, não?!” Eu disse. Sempre começo conversa com estranhos com coisas obvias, acho que isso vem de meu avô, ele sempre faz isso, mas gosto do modo como ele fala. “Sim está, e eu me sinto mal com isso, também estou morta de fome” disse Sra. Marly.
“Eu também estou com fome. Acho que todo mundo desse metrô esta com fome. Todos saem correndo de casa para não perder o metrô. Eu nem em casa estava, estava de plantão”.Eu disse.
“Concordo! Plantão?! Que faz?” Ela disse sorrindo, seus dentes eram amarelados, deduzo que vinha do cigarro e do café. A palavra plantão sempre instiga as pessoas.
“Ah, eu faço serviço social numa clinica mental, passei a noite acordada conversando com um senhor, Sr. Betone, é francês e jura que é amigo intimo de Sartre. Não sei como veio parar aqui em nosso país. Sabe, os loucos são muito carentes, precisam só de atenção.” Eu disse bem séria, como se fazer seviço social em manicômio fosse algo como fazer advocacia.
Ela ficou quieta por uns segundos e logo em seguida seus olhos se encheram de lagrima e disse “Meu pai pensava que era amigo intimo de Sartre também... Me perdoa, é que sempre fico emocionada ao pensar em meu paizinho. Ele era musico, tocava violino divinamente bem, mas era um homem miserável, rebelde e fanfarrão, minha mãezinha sofria muito ao seu lado, e ele desejara somente a morte dela.”.
Me deu vontade de rir, mas me segurei. Me senti mal de ter despertado esse sentimento na Senhora que mal conhecera. Minha mãe sempre diz que não me importo com a desgraça alheia, e tudo sempre é motivo de riso e chacota. Nesse exato momento lembrei dela, e pensei como me reprimia em mentir e de despertar tais sentimentos na pobre senhora.
“Me perdoe”.Disse ela mais uma vez, secando o lagrima que estavam quase para cair. “Meu nome é Marly Webber, prazer!”. “Eu sou Anieta Stelda, prazer! Me perdoe, não queria lhe fazer choramingar. Mas quero lhe certificar de uma coisa. Os velhos gostam de suas fantasias, eles não chamam de doença, mas de sanidade, é muita vezes o que as fazem viver entre nós por mais tempo. Me encanta Sr. Bretone, e suas estórias sempre me fascinam. Seu pai também deveria de ter estória fascinantes.”
Ela sorriu, me fez uma caricia com seu olhar meigo. Estava mais reconfortada. “A próxima parada eu desço, prazer Anieta! Nos encontramos outro dia no metrô, e com fome” Sorriu mais uma vez e se levantou. Realmente era muito grande.
“Ciao, Marly! Vou falar ao Sr. Bretone sobre você e seu pai, ele vai gostar”.
Nunca vou me esquecer de Marly, ela quase me fez parar de mentir. Quase!