Wednesday, May 30, 2007

Teses tarantinescas

e disse Selton Melo...

Wednesday, May 23, 2007

Ignácio, eu e o album

Como havíamos especulado, ele e eu, cansamos um do outro.
Ignácio não me via mais com os mesmos olhos de carinho e admiração, pelo contrario, me olhava com um certo desprezo e presunção, como se escondesse algo de mim e sempre a espreita para me ver enfraquecida e me dar o bote.
Depois de um curto período de relacionamento fica assim, desgastado, e como os dois têm personalidades muito fortes, um fica querendo ver a tragédia do outro para poder sobressair a afirmar a eterna dependência do mais fraco ao mais forte.
Ignácio não era lá essas coisas, já estive com homens melhores em vários sentidos. Era baixo, ameno, meio pardo, olhos escuros, era desleixado, lerdo e às vezes demente, inteligente não de livros, mas de vida, tocava flauta transversal docemente e era contra todo o velho. Tinha mal hálito crônico. Seu pai, Dr. Aurelino, me tratava bem e sempre me roubava dos braços de Ignácio para falar da ex, falecida mãe de Ignácio, Maria Isabel. Como de costume em viúvos, sempre se vitimizava, sentia pena dele então não me incomodava com as olhadelas para meu traseiro e os incidentes toques em meu seio.
Aventurei-me pela América de Ignácio, porque afinal aos homens temos que colecionar. São como figurinhas num álbum, sempre esperamos pela mais diferente, a mais difícil de encontrar e depois que a encontramos nos vem varias repetidas como a tão esperada, essas dividimos com as amigas e descobrimos que há outra que nos falta para ansiar sua vinda da mesma forma. Somente se esta satisfeita quando falta apenas um espaço para ser preenchido, e foi, com certeza, a figurinha mais difícil de achar, porque senão não estaria faltando, e finalmente quando a encontramos paramos de buscar, porque o álbum já esta completo. A verdade sobre o álbum de figurinha não é achar a figurinha mais difícil, mas sim parar de buscar por elas.
Quando via Ignácio pensava nele em meu álbum, foi com certeza, difícil de achar. Mas logo ao lado dele tinham mais 3 espaços vazios e mais uma dezenas em varias outras paginas. Depois de mais ou menos 3 meses com ele já não ligava mais pela sua presença em meu álbum, mas sim, pelos vários outros espaços em branco que faltavam ser preenchido.
Todo bom colecionador de figurinhas sabe, que não existe tempo exato para o entusiasmo com uma figurinha especifica, pode durar uma hora ou 10 anos, mais se ainda existir busca por outras figurinhas, o entusiasmo sempre vai passar e o incomodo pelos espaços em branco sempre vai persistir.
Quando terminamos não o via mais na minha frente, ele falava, recitava textos e eu pensava na 14, 36 e 37 que estavam faltando.
Ignácio tinha isso, de recitar textos e querer que todos concordassem com o que dizia, como se fora ele mesmo autor de tudo que falava. Como disse, ele rejeitava tudo que é velho, então não compreenderia alguém não dar credito ao que diz, porque com certeza, seria a noticia mais atual.
Quando falou em amor, voltei ao lugar onde estávamos, debaixo do bloco dele na 207 Sul, terminando um namorico de 3 meses. Por mais que sejamos todos colecionadores a palavra amor sempre nos prende e taí uma palavra que não era comum nas atualidades de Ignácio.
Eu: Que?
Ignácio: Eu te amo.
Eu não disse nada e não me pareceu verdadeiro. Não sei ao certo se o amor é algo altruísta ou egoísta, como pode me amar se estamos terminando? Deveria amar antes, enquanto estávamos juntos. Apesar que o amor dele não mudaria o curso das coisas, porque terminaríamos da mesma forma. Mas, com certeza, seria mais legal.
Ele continuou se recitando e eu prestando menos atenção ainda no que falava, pensava em mim e no que iria fazer naquela noite. Não é egoísmo meu não, ele falava para ele mesmo, Ignácio era o único interessado nas coisas que falava, mas gostava de fingir que falava para os outros, como se de alguma forma, todos esperassem o gotejar de sua sabedoria.
Ele se levantou do meu carro e disse tchau, eu sorri, disse tchau e mandei um beijo ao Dr. Aurelino. Quem sabe ele não é a figurinha 36?

Monday, May 21, 2007

It never happened.

She was standing right next to the study room entrance, the dark wodden door was gloomy which gave a bright contrast to her pearly skin.

He: Am I interrupting?

She didn’t answer quite yet. Her face was down looking at the glass of champagne she was lightly holding.

He: Hey!

She: Sorry, what?

He felt uncomfortable; she wasn’t paying him any attention.

He: Quite a party uh?

She: Sure is. Look at her, she looks so happy.

He: Yeah.

She: She looks specially pretty today… Can you see?

He: Yeah.

He was dazzled by her beauty, as he always was, for about 5 years already.

They were both quite for a while, then at once, he broke the solemn silence, rememberinf his means.

He: Ive been willing to ask you something.

She: Well, go ahead. I had enough drinks already!

Her absence was bothering him so much, but now, since he started, he must finished. Eventhou by now, he regrets his first approach.

He: Remenber that kiss?

She: WHAT? – giggling.

He: You don’t remember?

She: I beg your pardon, what kiss?

He: That kiss. Our kiss, well the only kiss we had, me and you… Remenber?

She: I truly don’t.

He: At our friend’s house, I even think you had someone downstairs.

She: I kissed you in an upstairs while I had someone downstairs? I’m sorry, you are mistaken – she stopped, put on a pensive face and with a finger on her lips continue – well, it looks like me, but still, you are mistaken – she giggled joking.

He: I’m not mistaken miss, you even apologized after.

She: I did? Why?

He: Well, I was very confused. Maybe because you didn’t mean to.

She: I don’t recall, therefore it didn’t really happen.

He: It happened.

She: Was anyone else in this upstairs?

He: No, I don’t think so.

She: So, it is just something that only you and me would know, right? And, I don’t know. So it is something only you know!

He: I know you, you will say that it was a dream, because I am the only one who knows.

She: You know me indeed! – she smiled - How did it felt then?

He: I don’t know, I was confused… See, you do remember.

She: Ha! It didn’t happened.

He: You asked how it felt, that is a trick question.

She: Hun, I don’t remember, therefore it didn’t happen, but, if such fact happened in you head, then, it might felt good.

He: Why so?

She: Forbidden things are sugary!

He: You say for that someone downstairs? I think he wasn’t anything stable, I mean, I haven’t really seen you two together.

She: You haven’t really seen me at all.

He: True! – he looked down for a while, realizing that that conversation wasn’t really going anywhere, and wonder why was she denying what happened. He proceeds – Don’t you want to know what I have to say about that?

She: Your dream? No, I don’t. Maybe you should tell it to her; HEY!

Her: Hey, I was watching you two from far, what were you talking about? Both seemed so, I don’t know, INTENSE?!

She: About magic, right? – addressing to him.

Her: Magic? – addressing to him.

He: Yes, I guess.

Her: What kind of magic?

She: The one that never happens.

Saturday, May 12, 2007

Sobre a Nina

" Voce tem um estilo todo seu! Quando crecer quero ser 'Nina'.
Veste suas proprias roupas. Combina tudo o que nao deve (segundo as meninas, já que eu n consigo com mta mastreia combinar as coisas) e acaba saindo linda!
Voce tá linda, Nina!
Consegue descobrir cantores que ninguem nunca ouviu falar e todos susurram a mesma coisa: Nina.
Tudo que se relaciona a voce é tao Nina.
É increvel essa capacidade sua.
Lembra do Toque de Midas? Aquele alquimista doido que quis tanto o ouro que depois tudo que tocava virava ouro.
Voce tem mais ou menos a mesma coisa. Tudo que toca se transforma mais que em ouro, se transforma em Nina.
E voce tá no seu carro, no seu jeito de dirigi-lo e deixar tudo ficar bagunçado, tá na otica, tá no seu jeito de falar "tipo", na sua língua entre os dentes, no seu encolher de ombros (que voce nem mesmo percebe), no seu sorriso, na sua simplicidade, na sua força calada que é maior do que a de um dragao (embora voce nem mesmo perceba).
Tem gente que sai por aí aos gritos, faz de tudo, modifica-se constantemente pra criar uma personalidade interessante, pra ser de alguma foma marcante.
Voce nao! Nao precisa disso! Voce simplesmente é isso por apenas ser.
Sendo só o que voce é, do jeitinho que é, consegue deixar uma marca pessoal em tudo que toca. Tudo que se concerne a voce tem cara de Nina, jeito de Nina, cheiro de Nina.
Nao conheço coisa mais Nina do que a propria Nina! Olha, te admiro demaaaais!
E suas músicas sao mesmo a sua cara, se parecem mesmo com vc! Todas as musicas que voce gosta e me apresentou
parecem que foram escritas por voce mesma e depois interpretada com sua propria voz. Juro que é isso que parece. Dá até pra sentir o cheiro do seu perfume nelas!
Nina Simone que o diga!

Nina, voce é tao Nina! É por isso que sou seu fã!
Continue sempre assim, Nina, ninando o mundo ao ser redor.
Só tem uma palavra pra te descrever: Nina!
Love u!"

Thursday, May 10, 2007

Eu tenho que manter a minha fama de mal

A frieza é extrema quando vem ao caso MF, não por não gosta do coroa, afinal ele é gente boa, escreve bem, teve a infância bem mais interessante que a minha, tem seu proprio semanário e também um dos poucos jornalistas que não é de esquerda.
São os excessivos afagos que me incomodam.
Ontem ele me prestou uma visita, no meio dos seus constantes toque, conseguimos, em fim, ter uma conversa um pouco sensata.
- Ta solteira?
- To sim.
- Hmmm. Ah to indo pro Chile.
- Já? Já deu um ano?
- Já, já sim. Mas vou acompanhado.
- Acompanhado? Hmmm isso é bom.
- É uma medica, pediatra, que coincidentemente segurou a minha neta.
Aham, coincidentemente.
- Que legal, fico feliz.
Ele sorriu, me abraçou e disse:
- Melhor se fosse com você.
Sorri.
- Voce não precisa se preocupar em estar solteira, logo, smepre aparece alguem.
- Não to preocupada não, nesse momento to com outras prioridades na cabeça.
- Voce hein menininha, você é terrivel.
- Voce acha?
- É. Voce tem cara de ser a que come.
- Hahahaha, tenho é?
- Tem, muita.
- Tenho que voltar ao trabalho.
Sai.
Como posso ser galanteada por um cinquentão e ainda ser chamada de safada com tanta sutileza?!
MF é uma figura, esses encontros ainda vão me render um livro, a lá Vargas Llosa.


Monday, May 07, 2007

Outra morte no Pátio Brasil.

... e Machado, jornalista do Correio Brasiliense, disse sem hesitar:

"O tedio a levou ao desespero."

Lendo essa certeza de Machado percebi que, des de que entendo a psicologia como arte e não ciência, percebi o sutileza da escolha da palavra tédio e o porque dela esta ali.
Sempre tive tédio como sendo a falta do que fazer, ou a preguiça de não se fazer nada. Depois dessa frase simples e conclusiva de Machado, percebi que o ócio é a falta do que fazer, mas o tédio é a falta de interesse naquilo que se faz.
Falta de interesse no trabalho, na amante, na casa, nos serviços domesticos, nos bichanos, na universidade, nos amigos...
O tédio é o estato vegetativo do espirito. Cada ação é por puro e eficaz condicionamento da rotina, ou seja, ação pos ação sem a essencia do porque de cada ação.
Ócio não mata o homem, nada! Eu conheço um monte de gente, meus parentes quase metade são ociosos, no entanto estão todos vivinhos e sem prazo de validade, esse parecem que vão longe. Que mata o homem é o tédio, muita vezes o tédio do ócio.
Joana entrou em desespero por tédio e não ócio. Ela estagiava no escritorio de advocacia do ai, estudava direito naquela faculdade particular da Asa Norte, ajudava a mãe com os serviços de casa, saia frequentemente com seus colegas do cursinho, do segundo grau, e estava presente em quase todos os churrascos da faculdade. Domingo sim Domingo não ia a missa com sua vó. Mesmo com todas essas atividadesde menina de classe média alta em Brasilia, Joana estava tediosa, o mesmo que a levou em seus poucos 21 anos de idade ao desespero.
Passou a não atender mais o telefone celular, que ultimamente só andava desligado ou fora da area de serviço; diminuiu consideravelmente as saidas com seus coleguinhas; agora só ia a missa uma vez no mês por tanta insistencia da vó; passou a deixar seu pegeut na garagem e andar de onibus.
Pouco a pouco Joana minguava, e seus pais, um juiz e o outro servidor publico, não notaram que sua unica filha estava entediada. O inercioso tédio não a deixava perceber sua propria decadência até que num dia quente e seco, desses que fazem aqui por volta das 14hs, do PL - piso lazer - do Patio Brasil, ela se jogou.
Joana não premeditou sua morte, não sabia que seria naquele dia, naquele local, muito menos naquela hora quente, mas o momento, e as circunstâncias lhe pareciam propícia.
Milesimos de segundos antes do impacto, se arrependeu do que tinha feito.

Friday, May 04, 2007

Mariclara

Maria: Clara?!

Clara: Maria?!

Maria: Isso. Como esta?

Clara: Bem, pensando... Mas bem. E você?

Maria: Pensando também, em que você anda pensando?

Clara: Num sonho que tive, era um tanto erótico e... Bem, to me sentindo insegura em falar para Dra. Laura. Ando pensando em uma maneira mais amena para contar. E você, em que anda pensando?

Maria: Nos anos. To com medo.

Clara: Medo de que?

Maria: Dos anos, dos nossos anos. Sabe, me peguei pensando mais uma vez na morte, mas da morte eu não tenho medo não. Confio em Nieztch e como ele mesmo me disse, só se morre quando a vida acaba, e a vida só acaba quando não se vive mais, e eu ainda to bem viva vivendo.

Clara: Justo! Então, que anos e que morte?

Maria: Esses nossos anos, esse vinte e poucos anos e a morte desses. Um pouco antes de te ligar pensei em Alvares de Azevedo “Oh! O amor! E porque não se morre de amor... No respirar indolente de seu colo confundir um ultimo suspiro!”. Então, já se morreu de amor, existe algo mais besta que morrer de amor?!

Clara: Meu vô morreu de amor.

Maria: Que besta! Com que idade?

Clara: Com 31 anos.

Maria: Besta e novo. Como pode ser tão besta sendo novo?! Pois bem, que acha disso, de morrer de amor?!

Clara: Acho uma morte nobre.

Maria: Por quê?

Clara: Porque se morre por tão pouco. Sabe a Dulcinéia, que mora aqui em baixo?

Maria: Aham!

Clara: Matou a filha a colocando na maquina de lavar, que morte pouca! Ainda não a condenaram, mas eu bem sou amiga dela e de inicio fiquei assustada, depois ela veio falar comigo e vi que se arrepende. A pobre esta morrendo de depressão. Mas pensando na morte da menina, é pouco. Morrer de amor não, pelo menos amor não é utensílio domestico.

Maria: Verdade. Então, nossa idade, a morte e Alvares de Azevedo. Sabia que Alvares morreu com 20 anos? Castro Alves, aos 24; Casimiro de Abreu, aos 21...

Clara: Pensei que tinham morrido um pouco mais velhos. Maria, esses eram todos boêmios e não se lavavam. Morriam de tuberculose, pneumonia...

Maria: Eu sei Clara, mas eles pegavam essa doença de amor. É como a Aids hoje em dia!

Clara: Você é tão trágica Maria.

Maria: Eu sei.

Clara: Olha, nada disso justifica você ter interfonado para minha casa às 4 da manhã. Amanhã tenho minha analise às 8, tenho poucas horas de sono para reformular meu sonho erótico.

Maria: Desculpa, podemos dormir juntas? Eu desço praí. To com medo porque acho que to amando, e me sinto sexualmente atraída por Alvarez de Azevedo.

Clara: Mas segundo Nietzch, você ainda ta bem viva.

Maria: Eu sei, eu acredito no Nieztch, mas gosto do Alvarez de Azevedo também.

Clara: Vem dormir aqui. Traz papel e lápis!

Maria: Pra que?

Clara: Eu te conto meu sonho, modificamos algumas coisas para virar um romance, publicamos e ai tem a sua obra. Se realmente morrer de amor, pelo menos não será esquecida.

Maria: Acabará em morte?

Clara: Claro, senão não seria um romance.

Maria: Desço em 10 minutos, vou levar vinho, uma foto do Nietzch, uma do Azevedo e 2 velas.

Clara: Pra que?

Maria: Nada venderia mais que um romance erótico inspirado por vinho com Azevedo e Nietzch como protagonista.

Clara: A porta estará aberta.

Thursday, May 03, 2007

Notas de um possivel...

Caro leitor,

Esse é mais um diário de bordo de angustia. Se você esta contente, satisfeito, ama e é amado, tem bom porte, estabilidade, sugiro que pare de ler agora mesmo e tenha bom animo, porque, mesmo onde não me encontro sigo acreditando que a vida é bela.

Você que é meu braço direito, cúmplice de minha insensatez, por favor, prossiga com a leitura.

Escrevo do meio do nada, minha bússola se perdeu tem tempo, mais ou menos há 8 meses. No primeiro ano seguia um caminho fielmente, depois de completar um ano, meu norte me levou ao inferno, estremeci em choro e soluços, me faltava o ar, fome e sede, agora há 8 meses vago. Todo dia suponho um norteador diferente, e ao final do dia o perco. Não que tenha a capacidade de distingui dia e noite, porque nesse mar adentro tudo é turvo, não é dia tão pouco noite, é o tempo, o constante agora.

Para onde miro vejo água, água e mais água, no céu água, na proa água.

Já não posso suportar esse mar me judiando, me balança prum lado, depois pro outro, me faz cair e depois me joga pra cima.

Num momento me dá fé, fé que tudo isso vai passar, que esse agora vai terminar, depois abruptamente me vem o desespero, vontade de tirar-me a vida, logo a conformidade, a segura compaixão, como quem diz que não importa o que acontecer, sempre estará do meu lado, esse meu mar, me jogando dum lado para o outro.

Já escutei historia de gente que morreu nesse meu mar, que lhe entregou a vida, a alma, e foi docemente encantado pelas sereias, se aventurou com piratas e depois morreu, morreu de desgosto, morreu de desilusão, morreu acreditando que esse meu mar os salvaria, os diria a verdade.

Escutei também aqueles que beijaram sereias, que foram capitães, que deram sua vida para o mar e esse lhes recompensou com razão, com amor, com felicidade, com estima, como aqueles que deixaram de ler esse diário logo depois do primeiro parágrafo.

Essa roda da vida que é o meu amor.

Ele me persegue, me afugenta, me faz querer esta perto, tocá-lo com meus lábios, acariciar sua frente, cheirar sua pele, sentir o calor de seu pelo, mas quando enfim o tenho, me repugna, me dá náuseas, me deixa mareada com nojo da sua presença.

As pontadas na cabeça me tiram a força, o embrulho no estomago me da refluxo d’agua salgada, as lagrimas me deixaram cega, não sinto falta das unhas, pelo contrario, sem elas seguro mais levemente os mastros e me atrevo olhar para o fundo, suplicando pelo vento um pouco mais forte, que me faça escorregar e me tirar essa tormenta porque sei que minha resposta esta no fundo desse meu mar. Mas ele não sopra, quando me atrevo, ele não sopra.

Mar desgraçado, me fez pobre de coração e miserável de alma.

Não te esqueci ou ainda te amo, ou ainda não te perdoei, ou não encontrei um outro mar tão interessante quanto o teu.

Pra onde foram os strudels?


- Sim, e no contexto histórico do direito constitucional...

E foi diminuindo, diminuindo, diminuindo, até eu escutar aquela voz longe, lá do fundo, e ter meus pensamentos tomados pela ânsia de um doce qualquer. Logo vi que não seria umas das minhas melhores noites, porque toda vez que se escuta “direito constitucional” algo no mundo sempre muda de lugar.

Foi então que vi que não tinha para onde correr, e disse:

- Licença, vou ao banheiro.

Desde criança, quando não tinha onde me esconder, ia ao banheiro, é friozinho e sempre tem como se trancar.

Passei uns 15 minutos no banheiro, somente me olhando no espelho. Analisava a curva de meu nariz, as 5 acnes que tinha da testa, uns cravinhos na bochecha, os fios grossos que desalinhavam a sobrancelha, meu cabelo pouco emaranhado, os lábios de batom pouco pintados e o lápis de olho pouco borrado, e mesmo com isso tudo não me achei tão mal assim, era, com certeza, mais humana que muitos que estavam na mesa. Não mexi em nada e voltei a sala.

- Escutei isso tudo hoje numa sessão do plenário, mas os deputados não sabem ainda o que vão fazer...

Realmente cogitei que a palavra “plenário” seria a ultima dessa frase, mas a besta continuou falando.

Fala “Licença, vou ao banheiro” 2 minutos depois de ter voltado do mesmo, não agradaria os ouvidos dos meus amigos que se entretêm com o poder judiciário, e muitos iriam se perguntar dos motivos das minhas idas ao banheiro com tanta freqüência... Esperei mais 3 minutos, enquanto analisava os dedos do pé da Maria, que estava ao meu lado, eram com certeza, os dedos mais lindos que já vi na minha vida. Poderiam ser de chocolate. Quando completou 5 minutos de volta do banheiro, disse:

- Vou ali comprar um strudel.

Não sei de onde diabos tirei o doce strudel! Havia uns 3 anos que não comia um strudel, e analisando freudianamente, me levariam mais 3 anos para achar um strudel naquela hora na cidade, então isso me daria 3 anos longe do papo desgostoso dos meus amigos, assim sendo... Meu strudel não foi uma tão má idéia!

O feitiço virou contra a entediada feiticeira. Depois que falei strudel, realmente fiquei com vontade de comer um strudel, e procurei por todo bairro o strudel... Não houve então, nenhum strudel na historia da humanidade naquela noite! Nem na noite seguinte, nem no dia seguinte, tão pouco ontem... O que antes era apenas uma desculpa para me levantar da sala da casa de Matias e sair vagando sozinha pela noite do Rio de Janeiro, virou um tormento.

Depois da segunda semana também insatisfatória da busca do meu strudel eu sonhei:

Sonhei que estava numa feira de antiguidades, onde todo o ambiente era sépia e tudo tinha cheiro de café frio derramado. De longe vi minha sócia que estava com o seu filho apoiado apenas pela mão esquerda, e na direita era trazia um delicioso strudel, somente depois de ver o strudel senti a real necessidade de ir falar com ela, e claro, pedir um pedaço. O pedaço me foi concedido sem demora, mas toda a ânsia de minha primeira bocada no tão esperado strudel, o fez cair, antes de qualquer pedacinho ter pelo menos tocado meus lábios e o cheiro doce canelado chegado a minhas narinas. Minha indignação foi tamanha, que peguei a merda do strudel do chão, amassei no guardanapo de o joguei na lixeira. Mais a frente encontro minha gatinha que amo, a Lucrecita, a imagem dela apaziguou meu coração, peguei minha gatinha, cherei, a beijei e a coloquei no chão para brincar com outro gatinho que estava com ela, um menorzinho. Eu fiquei ali, naquele ambiente aconchegante sépia com cheiro de café frio seco observando a beleza de Lucrecia brincando com um gatinho mais novo. Foi quando inesperadamente chegou outro gato, um grande, gordo e laranja que num só movimento, pressinou Lucre e seu amiguinho contra a parede os sufocando até a morte. Antagonicamente, minha reação não foi de desespero, foi como quem já espera a morte de outro, e com uma cara tapada, somente disse “Olha, a Lucrecia morreu.”

Acordei feliz, percebi que tudo passava de um sonho e que minha Lucrecinha continuava viva, miando lá na sala suplicando por comida.

Mas minha indignação só aumenta, nem no meu sonho consegui comer o meu strudel. Estou começando a acreditar que nunca haverá na historia da humanidade um strudel para mim, e se em algum dia inesperado houver, como daqui há 3 anos, algo no mundo vai mudar de lugar, assim como quando se escuta direito constitucional.