Tuesday, September 18, 2007

Acaratapa

Ta aqui, uma face limpa, branca, rechonchuda, esperando um pelo tapa, pode bater.
E me bateu, mas sem muita vontade, digo, com bastante receio.
Eu disse, pode bater.
E denovo veio o ardor brando daquela mao suave e macia contra meu rosto.
Calma, tem o outro lado, ele nao pode se sentir neglegenciado, pode bater aqui tambem, por favor.
E a mesma mao branda, mas, com uma pena mais de forca.
Desculpa, voce nao ta me entendendo. Quero um tapa, um tapa real, sem rodeios, sem medo, um tapa mesmo, de alguem que esta puto.
A mao tava mais firme, sentir os 5 dedos mais estreitos, mais firmes e com maior impacto. O ardor formiguento foi consideravelmente maior dessa vez.
Agora o outro lado.
Ai senti, a forca estritente de uma bofetada bem dada, o atrito que separou as moleculas e pintou na minha face com meu proprio sangue comprimido todos aqueles 5 belos dedos que por milesimos ferveram contra meu rosto.
Permaneceu, por um tempo indefinido, porque depois de algumas daquelas bem dadas bofetadas ja nao senti mais dor. Adrenalina e endorfina fizeram um belo cocktail aqui dentro, doce e apimentado, e ai percebi que naquela inercia de tapas estava a minha verdade. Entrei em transe e quanto mais me batia mais verdade via, mais sentido a vida fazia, menos mediocre me sentia e deliberadamente mais viva. Pulsava em mim a vontade engolir o mundo, nao apenas prosseguir em ser parte constituinte dele, mas ele ser parte constituinte em mim, de mim.
Agora o mundo e meu e faco dele o que bem entender.